Semana passada, a Re, do Vestidinho Jeans, fez um post incrível sobre higiene menstrual, e comentou sobre o documentário Absorvendo o Tabu.
Isso me fez lembrar que quando assisti esse doc eu também fiquei mega impactada e escrevi sobre ele, mas por algum motivo (imagino que a correria), não trouxe pra cá.
Eu sempre falei muito sobre menstruação por aqui – a maioria das vezes, em posts sobre o coletor menstrual. Pensando nisso, achei válido recuperar o texto sobre o documentário e trazer pra cá mesmo com mais de um ano de atraso ♥
“Não acredito que um filme sobre menstruação acabou de ganhar um Oscar”, foi o que a diretora Rayka Zehtabchi disse ao receber o prêmio ao lado de outras mulheres envolvidas na produção do documentário Absorvendo o Tabu.
Essa fala foi suficiente pra chamar minha atenção e, poucos dias depois, fui assistir o documentário (que está disponível na Netflix). E, sinceramente, eu acredito que todo mundo devia fazer o mesmo. Ele mostra uma cidade rural da Índia e é super rapidinho — só 26 minutos — mas muito impactante e importante.
Logo no começo, já temos um choque de realidade: a princípio, são mostradas crianças com vergonha de falar sobre menstruação e, depois, vemos que isso não se limita às crianças. Mulheres mais velhas também não conseguem falar sobre o assunto.
Muita gente aqui no Brasil é criada sem falar sobre isso, mas acho até difícil comparar a situação. No documentário, várias mulheres dizem não saber o que é a menstruação, e respondem coisas como “É o sangue ruim que sai da gente“, “Só Deus sabe o motivo“.
Quando a pergunta é feita aos homens, a falta de informação fica ainda maior: vários deles nunca ouviram falar, outro diz que “é uma doença que atinge principalmente as mulheres“.
A menstruação é um tabu tão grande que as mulheres parecem travar, ficam sem graça, abaixam o olhar ao falar sobre. Elas são consideradas sujas e não podem nem mesmo entrar nos templos durante o período menstrual.
Mas não é só da religião que as mulheres são afastadas ao menstruar.
Em seguida, as mulheres começam a relatar sobre como abandonaram a escola depois de começar a menstruar, porque grande maioria das mulheres lá não tem acesso aos absorventes.
Pra gente é algo tão comum, que chega a ser difícil imaginar o motivo de uma menina menstruada não poder ir à aula, né? Mas sem os absorventes (que a maioria nem sabe o que é ou como usar, por ser algo muito caro e inacessível) elas relatam dificuldades para “trocar de roupa” ou “ficar molhada” – o que foi muito chocante pra mim.
E, depois disso, entendi o trocadilho com o nome do documentário em inglês: Period. End Of Sentende, que pode ser traduzido como “Ponto final. Fim da frase.”, ou, no caso, “Menstruação. Fim da frase.”.
As mulheres são afastadas da escola por não terem como lidar com a menstruação. Elas usam panos velhos para conter o sangramento e, depois, descartam esses panos à noite, quando ninguém estiver vendo. E, por essa dificuldade, a maioria abandona a escola.
O documentário mostra então a chegada de uma máquina de absorventes à cidade. Algumas mulheres são treinadas e começam a trabalhar na fábrica produzindo os absorventes e vendendo-os (por um preço mais acessível) para as outras mulheres da cidade.
Aí é legal ver como isso causa uma pequena(grande) revolução: não só as mulheres começam a falar sobre menstruação e ter acesso a uma forma mais higiênica de lidar com ela, mas começam também a trabalhar.
Eu arrepiei todinha quando uma delas diz que “eu ganhei o respeito do meu marido desde que comecei a ter ganhos ao invés de ficar em casa“. É uma forma muito louca e direta de ver o quanto a independência financeira é importante para a emancipação feminina.
É muito louco ver como realmente a menstruação não é só sobre sangue —mas também sobre acesso à educação, sobre oportunidades mais iguais no mercado de trabalho, sobre a liberdade feminina. E acho que fica ainda mais claro o quanto precisamos falar cada vez mais sobre, quebrar os tabus, divulgar informação sobre.
A máquina de absorventes do documentário é patrocinada pelo projeto The Pad Project, um projeto que luta pela igualdade menstrual — para que todas as mulheres tenham acesso à informação sobre a menstruação, à saúde menstrual e sexual, e à higiene menstrual.
Eu terminei o documentário chocada com a quantidade de coisas que conseguiram passar em menos de meia hora. Tentei falar um pouquinho sobre tudo, mas não cheguei nem perto disso.
Também fiquei chocada com o quão privilegiada a gente é, por estar conseguindo falar em coletor menstrual enquanto em lugares do mundo as mulheres se entusiasmam com um absorvente que pra gente parece gigante e impensável.
E você, já assistiu o documentário? Me conta aqui nos comentários o que achou, se ficou com vontade de assistir, se tem alguma outra dica tão legal quanto!
Renata Rodrigues
oi Laura <3
assisti ao documentário no ano passado, depois do Oscar, por um trabalho da faculdade lá em Portugal.
estudava com gente do mundo todo e tivemos que fazer um trabalho de design a partir do documentário. é bem doido o quanto a gente não percebe os milhares de tabus que a gente vive né?
depois que fiz a matéria pro meu blog, comecei a ler e querer entender mais sobre o período menstrual e puts é libertador.
dói que a grande maioria das mulheres ainda trate como um assunto tão surreal – por termos sido ensinadas desse jeito né?
mas ó, acredito que estamos ajudando a trazer o assunto ao debate e que de pouco em pouco vamos conseguir tirar a obscuridade ridícula da menstruação.
grl pwr ♥
beijos!
Laura
@Renata Rodrigues, simm! Conhecer mais nosso ciclo é muito incrível e libertador mesmo!
Acho que aos pouquinhos conseguimos mudar isso sim…
grl pwr ♥
Carol Daixum
Eu lembro quando esse documentário ganhou o Oscar, mas como nem tenho muito o costume de assistir docs, acabei não vendo. Fiquei chocada só de ler o seu post. A gente realmente não tem noção o quanto somos privilegiadas mesmo, né? Até em situações que parecem ser simples. E sabe, eu lembro que quando fiquei a 1ª vez foi um choque, porque significava que eu tinha crescido e não queria isso. Mas a minha mãe explicou tudo direitinho e esse apoio foi bem importante! ♥ Hoje em dia, eu tenho curiosidade para usar aquelas calcinhas “pants” (acho que é esse o nome, se eu não me engano). Coletor eu tenho a sensação de que incomoda bastante. E não tenho mais vergonha, como antigamente, de comprar absorvente e nem fico escondendo que tô naqueles dias. 🙂
Beijos, Carol
http://www.pequenajornalista.com
Laura
@Carol Daixum, sim! É chocante quando a gente vê que coisas simples e normais pra gente na realidade são um privilégio…
As calcinhas absorventes ou os absorventes de pano são opções muito legais mesmo! Mas eu sou suspeita… amo o coletor, até esqueço que estou usando! Eu não conseguia usar absorvente interno, mas o coletor é muuuito diferente, hahah… vale a pena pesquisar mais sobre!
Beijos!
Leslie Leite
Não conhecia o documentário, mas quando possível quero assisti-lo, estou sem Netflix no momento.
Menina, eu sou o tipo de pessoa que quando está em um lugar público nem esconde o absorvente ao ir ao banheiro trocar, então sim, eu fiquei chocada em saber algumas coisas sobre esse documentário. Mas, também me lembro que assim que tive a menarca faltei na escola por alguns dias por causa de cólica, hoje eu gosto de menstruar, tanto que já pensei em trocar o anticoncepcional de 21 dias por um de 30 a fim de não menstruar, mas no geral, eu gosto, me sinto mulher guerreira e normal por menstruar, haha.
Amei seu post!
Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Laura
@Leslie Leite, assiste sim, vale a pena!
Eu também já desencanei total – acho que na verdade só tive vergonha muito no começo, depois que comecei a usar o coletor falo sobre normalmente e amo hahahah
Também gosto de menstruar, apesar das cólicas – que ainda dificultam minha vida as vezes.
Beijos!
Neila Bahia
Há alguns anos venho estuando sobre o resgate do Sagrado feminino e é com alegria que chego a um post como o seu. Informativo, com conteúdo e, sobretudo, que faz as pessoas refletirem. Uma das coisas que me chocaram foi descobrir o porque alguns chamam a menstruação de “chico”. É um absurdo como isso é mesmo um grande tabu na sociedade. Fico feliz de sempre ter abraçado meu ciclo e de ser muto grata por não ter tantos “problemas” como algumas de nós tem. Obrigada por trazer isso para o debate.
Muitos beijo!!